Não poderá ser completa nenhuma educação que não ensine
princípios corretos em relação ao vestuário. Sem tal ensino, a obra da educação
é muitas vezes retardada e pervertida. O amor ao vestuário e a dedicação à moda
acham-se entre os mais formidáveis oponentes e decididos embaraços que há para
o professor.
A moda é uma senhora que governa com mão de ferro. Em
muitíssimos lares a atenção, força e tempo dos pais e filhos são absorvidos em
satisfazer suas exigências. Os ricos têm o desejo de suplantar uns aos outros
ao sujeitar-se às modas que estão sempre em mudança; os de classe média e mais
pobres esforçam-se por aproximar-se da norma estabelecida pelos que supõem
acima de si. Onde os meios e a força são limitados, e o desejo de sobressair é
grande, o peso se torna quase insuportável.
Para muitos não importa quão próprio ou mesmo bonito um
vestido possa ser, no caso de se mudar a moda, tem de ser reformado ou posto de
lado. Os membros do lar são condenados a uma faina incessante. Não há tempo
para educar as crianças, tempo para a oração, ou para estudo da Bíblia; não há
tempo para ajudar os pequeninos a se familiarizarem com Deus mediante as Suas
obras.
Não há tempo nem dinheiro para a caridade. Muitas vezes a
mesa de jantar vem a sofrer restrições. O alimento é mal escolhido e preparado
precipitadamente, sendo as exigências da natureza supridas apenas parcialmente.
Os resultados serão os maus hábitos no regime alimentar, os quais desenvolvem
doenças e conduzem à intemperança.
O amor à exibição produz a extravagância, e em muitos jovens
mata a aspiração para uma vida mais nobre. Em vez de procurar educação, cedo
demais se empenham nalguma ocupação a fim de ganhar dinheiro para satisfazer à
paixão do vestir. E por meio desta paixão muita jovem é seduzida à ruína.
Em muitas casas os recursos da família ficam
sobrecarregados. O pai, incapaz de suprir as exigências da mãe e filhos, é
tentado à desonestidade, e novamente a desonra e ruína são o resultado.
Mesmo o dia de culto e as próprias cerimônias religiosas não
estão isentos do domínio da moda. Pelo contrário, oferecem oportunidade para
maior exibição de seu poder. A igreja torna-se um lugar de ostentação, e as
modas são estudadas mais do que o sermão. Os que são pobres, incapazes de
corresponder às exigências da moda, ficam inteiramente afastados da igreja. O
dia de descanso é passado em ociosidade, e pelos jovens muitas vezes em
associações desmoralizadoras.
Na escola, as moças, em virtude de vestes impróprias e
incômodas, inabilitam-se ou para o estudo ou para o recreio. Sua mente está
preocupada, e tarefa difícil é ao professor despertar-lhes o interesse.
Para quebrar o encanto da moda a professora muitas vezes não
encontra meios mais eficazes do que o contato com a Natureza. Que as alunas
provem os deleites que se encontram ao lado dos rios, lagos e mares; subam elas
às colinas, contemplem a glória do pôr-do-sol, explorem os tesouros do bosque e
do campo; aprendam os prazeres de cultivar plantas e flores; e a importância de
mais uma fita ou babado perderá sua significação.
Levem os jovens a verem que no vestuário, assim como no
regime alimentar, a maneira singela de viver é indispensável para que possamos
pensar de maneira superior. Levem-nos a ver quanto há a aprender e fazer, quão
preciosos são os dias da juventude como preparo para o trabalho da vida.
Ajudem-nos a ver que tesouro há na Palavra de Deus, no livro da Natureza, e nas
histórias das vidas nobres.
Dirija-se-lhes a mente aos sofrimentos que poderiam aliviar.
Auxiliem-nos a ver que, em cada dólar dissipado para a ostentação, aquele que o
despende se despoja de meios para alimentar os famintos, vestir os nus e
consolar os tristes.
Não podem consentir que se frustrem as gloriosas oportunidades
da vida, que se lhes amesquinhe o espírito, arruíne a saúde, e naufrague sua
felicidade, tudo por amor da obediência a mandos que não têm fundamento na
razão, nem no conforto ou na graça e elegância.
Ao mesmo tempo devem os jovens ser ensinados a reconhecer a
lição da Natureza: "Tudo fez formoso em seu tempo." Ecl. 3:11. No
vestuário, bem como em todas as outras coisas, é nosso privilégio honrar a
nosso Criador. Ele deseja que não somente seja nosso vestuário limpo e
saudável, mas próprio e decoroso.
O caráter de uma pessoa é julgado pelo aspecto de seu
vestuário. Um gosto apurado, um espírito cultivado, revelar-se-ão na escolha de
ornamentos simples e apropriados. A simplicidade no vestir, aliada à modéstia
das maneiras, muito farão no sentido de cercar uma jovem com aquela atmosfera
de sagrada reserva que para ela será uma proteção contra os milhares de
perigos.
Ensine-se às moças que a arte de vestir-se bem, inclui
também a habilidade de fazer sua própria roupa. Isto deve ser uma ambição
nutrida por toda jovem. Será um meio de utilidade e independência de que não
pode prescindir.
É justo amar e desejar a beleza; Deus, porém, deseja que
amemos e procuremos primeiro a mais alta beleza - aquela que é imperecível. As
mais seletas produções da perícia humana não possuem beleza que se possa
comparar com a beleza do caráter, que à Sua vista é de grande preço.
Ensinem-se os jovens e crianças a escolher para si aquela
veste real tecida nos teares celestiais - o "linho... puro e
resplandecente" (Apoc. 19:8), que todos os santos da Terra usarão. Tal
veste - o próprio caráter imaculado de Cristo - é livremente oferecido a todo
ser humano. Mas todos os que a recebem, a receberão e usarão aqui.
Ensine-se às crianças que, franqueando elas a mente a
pensamentos puros e amoráveis, e praticando ações amáveis e auxiliadoras, estão
se vestindo com Suas belas vestes de caráter. Este traje as tornará belas e
amadas aqui, e depois será o seu direito de admissão ao palácio do Rei. Sua
promessa é: "Comigo andarão de
branco, porquanto são dignas disso." Apoc. 3:4.
Ellen White, Educação, 246 a 249