Meio de comunicação de maior penetração no mundo atual, a
televisão é o instrumento por excelência da cultura de massa, pelo modo direto
com que atinge um público numerosíssimo e pela capacidade de determinar
comportamentos.
Televisão é um sistema eletrônico de transmissão instantânea
de imagens (geralmente acompanhadas de som) para aparelhos receptores que são
capazes de projetá-las num tubo de imagem ou numa tela.
Em termos mundiais, o sistema de televisão apresenta duas
estruturas distintas: a privada e a estatal. Essa divisão não está
necessariamente vinculada a sistemas políticos: em vários países de livre
empresa, a televisão foi durante muito tempo estatal. Nos Estados Unidos, a
televisão é privada e dominada por grandes redes jornalísticas. Em alguns
países, o estado exerce certo nível de controle; em outros, controla
inteiramente o sistema; em outros ainda, quase não interfere.
Enquanto a televisão comercial se autofinancia com a venda
de tempo aos patrocinadores, a estatal é financiada por impostos e por taxas
que incidem sobre os receptores; ainda assim, como os custos são elevadíssimos,
as redes estatais são quase sempre deficitárias. Os Estados Unidos lideram
todas as estatísticas relativas à televisão: número de aparelhos, número de redes,
número de espectadores. A Europa é o continente onde existe maior intercâmbio
regional e nacional de programas.
História
A descoberta do selênio, em 1817, pelo sueco Jacob
Berzelius, foi o primeiro passo para a invenção da televisão. Em 1873, o inglês
Willoughby Smith comprovou que aquele material tinha a propriedade de
transformar a energia luminosa em energia elétrica. Estabelecia-se, assim, a
premissa teórica segundo a qual era possível transmitir imagens por meio da
corrente elétrica.
Em 1884, o jovem alemão Paul Gottlieb Nipkow inventou um
sistema televisor completo, que empregava um analisador mecânico de imagens. O
engenho consistia num disco fino e metálico com orifícios eqüidistantes e
dispostos em espiral, do centro para a periferia. Instalado entre o objeto a
ser televisionado e as células fotoelétricas, o disco era girado e cada uma de
suas aberturas produzia uma linha circular de luz (como se fosse traçada no
escuro por um cigarro aceso), que incidia sobre a fotocélula. Assim que o
orifício mais externo passava sobre a imagem, o orifício seguinte traçava outra
linha, paralela e imediatamente abaixo da anterior. A sucessão dessas linhas
contíguas era traduzida pelas fotocélulas em impulsos elétricos, transmitidos,
por sua vez, ao receptor. Neste, a energia recebida se convertia em variação de
intensidade de luz por meio de uma lâmpada, onde um segundo disco, sincronizado
com o do transmissor, projetava linhas novamente sucessivas que recompunham as
imagens originais.
Em 1906, foi patenteado na Alemanha um sistema de televisão
que utilizava um meio catódico. O mesmo fazia, quase simultaneamente, Boris
Rosing, em São Petersburgo. Só na década de 1920, porém, realizaram-se
verdadeiras transmissões de imagem, graças às experiências do britânico John
Logie Baird e do americano Charles Jenkins. Trabalhando de forma independente,
os dois utilizaram analisadores mecânicos de imagem baseados no disco de
Nipkow.
Em 1923, Vladimir Zworikin patenteou o iconoscópio, invento
que inaugurava a televisão eletrônica, mediante a utilização do tubo de raios
catódicos, que havia sido descoberto em 1897 pelo alemão Karl Ferdinand Braun.
As imagens transmitidas por esse sistema tinham muito mais qualidade, assim
como as obtidas pelo dissector de imagens, criado em 1928 por Philo Taylor
Farnsworth.
O primeiro televisor eletrônico foi construído em 1932 pela
Radio Corporation of America (RCA), com um tubo de raios catódicos aperfeiçoado
e 120 linhas de definição. A descoberta representou um importante estímulo para
as pesquisas em sistemas eletrônicos. Nos Estados Unidos, esse trabalho era
liderado pela RCA; nos Países Baixos, pelos Laboratórios Philips; e, no Reino
Unido, pela Electric and Musical Industries (EMI).
As primeiras transmissões na França foram realizadas em 1930,
por René Barthélemy, com grande êxito. Em março de 1935 ocorreu a primeira
transmissão oficial na Alemanha. No ano seguinte, foi inaugurada na Inglaterra,
a estação da British Broadcasting Corporation (BBC). Com o rápido
desenvolvimento da eletrônica, Londres, em pouco tempo, começou a transmitir
imagens entrelaçadas de 405 linhas. Em maio de 1937, marcou época a
transmissão, por três câmaras eletrônicas, da coroação de Jorge VI, assistida
por cinqüenta mil espectadores. Em 1938, a televisão começou a operar na Rússia
e, em 1939, nos Estados Unidos.
O processo de desenvolvimento se acelerou: era preciso
estabelecer normas universais de fabricação, de modo a superar os problemas
técnicos e econômicos provocados pelo excessivo número de modelos no mercado. A
independência dos fabricantes americanos e europeus determinou a escolha de
dois sistemas diferentes, que passaram a ser usados em todo o mundo. O sistema
americano adota uma taxa de repetição de trinta imagens por segundo, com 525
linhas por imagem; no sistema europeu usam-se 25 repetições e 625 linhas.
Durante a segunda guerra mundial, a Alemanha foi o único país a manter a
televisão em funcionamento. Em outubro de 1944, a estação de televisão de Paris
voltou a funcionar, e em dezembro de 1945 foi a vez de Moscou. Em junho do ano
seguinte, a BBC retomou suas transmissões, com o grande desfile da vitória
aliada.
No pós-guerra, a televisão se desenvolveu rapidamente. O
novo meio de comunicação passou a rivalizar com os demais, no plano da
informação e da publicidade. Em 1948, o público americano acompanhou as
manobras militares realizadas em mar alto; Hollywood começou a produzir filmes
especialmente para a televisão. A Europa e a América Latina foram literalmente
invadidas pela novidade eletrônica, que era chamada "a quinta parede"
dos aposentos.
Em 1950, já havia, nos Estados Unidos, 107 estações de
televisão e quase quatro milhões de receptores domésticos. No mesmo ano, a BBC
conseguiu realizar a primeira transmissão de imagens para além do canal da Mancha,
fato que marcou o nascimento da Eurovision (rede européia de televisão). Em 4
de setembro de 1951, a transmissão do discurso do presidente Harry Truman na
conferência do tratado de paz com o Japão, em San Francisco, inaugurou a
televisão transcontinental. A coroação da rainha Elizabeth II em Londres, em 2
de junho de 1953, foi levada pela Eurovision à França, Bélgica, Países Baixos e
Alemanha.
A primeira transmissão esportiva ocorreu em 1954: 108
emissoras de 11 países receberam, pela Eurovision, as imagens da Copa do Mundo.
Dois anos depois, surgiu a técnica do videoteipe, verdadeira revolução para a
televisão, uma vez que permitia armazenar as imagens e reproduzi-las para um
público muito maior, além de possibilitar maior elaboração técnica das cenas e
a criação de efeitos especiais. Em 1959 aconteceu a primeira cobertura
política: o resultado das eleições gerais na Inglaterra, transmitido ao vivo
das mesas eleitorais por 57 câmaras da BBC. A BBC também transmitiria,
diretamente da Rússia, o pouso do primeiro viajante espacial, Iuri Gagarin, em
abril de 1961. Da mesma forma, o vôo espacial do americano John Glenn, em
fevereiro de 1962, teve suas imagens levadas a toda parte. A evolução da
tecnologia e as necessidades de melhorar e ampliar as transmissões mundiais de
dados levaram à criação dos satélites artificiais. A primeira transmissão
oficial via satélite aconteceu em 23 de julho de 1962, com a ajuda do Telstar
1, lançado dias antes pela NASA.
Televisão em cores. As primeiras tentativas de emissão de
sinais em cores foram feitas, em 1928, por Baird, no Reino Unido. Emprega-se
basicamente na televisão em cores o princípio da tricromia nas artes gráficas:
decompõe-se a imagem a ser transmitida em três outras imagens, nas cores
primárias da luz, azul, verde e vermelho. Baird usou um disco de Nipkow, com
três séries de aberturas, uma para cada cor primária. No ano seguinte, Herbert
Eugene Ives, da Bell Telephone Laboratories, conseguiu transmitir imagens em
cores de Nova York a Washington, com cinqüenta linhas de definição e um canal
de transmissão exclusivo para cada uma das três cores. Por não conseguir gerar
imagens para os aparelhos em preto-e-branco existentes, esse sistema foi logo
substituído por outros, denominados compatíveis.
Os sistemas compatíveis de televisão em cores são complexos
e transmitem simultaneamente, por um único canal, as informações relativas às
três cores fundamentais. Baird, no Reino Unido, e Peter Carl Goldmark, na
Columbia Broadcasting System (CBS) americana, pesquisaram esses sistemas de
transmissão em cores e demonstraram o uso de filtros coloridos rotativos em
câmaras e receptores. O método da CBS foi empregado, antes da segunda guerra
mundial, em transmissões experimentais, retomadas em 1951. Como o interesse do
público era pequeno (os receptores existentes não se adaptavam a esse sistema),
foi abandonado. O National Television System Committee (NTSC) americano começou
então a estudar um sistema simultâneo totalmente compatível. O trabalho
resultou, em 1953, num sistema capaz de operar com os televisores
preto-e-branco, chamado NTSC, que começou a ser usado em transmissões públicas
no ano seguinte.
Na França, adotou-se o sistema SECAM (Système électronique
couleur avec mémoire), criado pelo engenheiro Henri de France. Na Alemanha,
optou-se, em 1967, por uma variante do NTSC, denominada PAL (Phase Alternation
Line), que no Brasil foi adotada no padrão M. A diferença técnica entre os três
sistemas consiste no processamento dos sinais elétricos da transmissão,
transformados em ondas de rádio e reconvertidos em imagem ao serem captados
pelo aparelho receptor. O princípio básico é a combinação de duas transmissões
de imagem, uma com os detalhes em preto-e-branco e outra com a justaposição em
cor. No sistema francês os aparelhos comuns não captam as transmissões em
preto-e-branco, o que não acontece com os sistemas NTSC e PAL.
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